oi



12 de junho de 2011

A alma de um povo e o re-desenvolvimento do interior

O Presidente da República proferiu um notável discurso nas comemorações do Dia de Portugal, em Castelo Branco, no dia, 10-6-2011. No conteúdo e até na forma.

Tenho insistido que tem sido muito desprezada a indicação de desígnios para o País que o Presidente Cavaco Silva, em contraste com a gestão palaciana da política nacional que o Presidente Sampaio preferiu. Como Cavaco Silva disse: «Portugal é mais do que a vida dos partidos ou o ruído dos noticiários» e o Presidente «deve apontar linhas de rumo e caminhos de futuro».

Cavaco dedicou o discurso, e a opção da comemoração em Castelo Branco, ao interior do País. Fez a análise do problema: despovoamento e perda de actividade e rendimento do interior, desequilíbrio interno com um País a duas velocidades e menosprezo do interior pelos Governos. E depois lançou o desígnio da «justiça territorial» - «a justiça social é, também, justiça territorial».


Creio que foi em 1995, com a vitória do Partido Socialista, que Portugal virou para a prioridade a Lisboa - os socialistas estavam fartos do dinheiro do desenvolvimento ir para o resto do país, onde a União Europeia, para lá dos Governos de Cavaco Silva, o queriam. Lisboa, escandalosamente uma região de Objectivo  dos Fundos Estruturais (porque agregou o Oeste e o Vale do Tejo para lhe diminuir o rendimento per capita) - ao contrário de Madrid, passou a receber os grandes investimentos. Lisboa enriqueceu e até sofreu o phasing out da região do Objectivo , em que recebia mais contrapartidas. Os socialistas sabiam que os votos estavam na cidade grande, e noutras, e propuseram a esse eleitorado recentrar os investimentos nas grandes cidades - e o eleitorado citadino deu-lhes a vitória. O desequilíbrio do país passou da inclinação para o mar na costa norte e centro e no Algarve - o apelo do mar continuou a ser muito pequeno no Alentejo - para um desenvolvimento centrado em Lisboa, cidade atlântica, uma cidade de shoptainment europeu e africano, megalópole nacional que tudo suga e concentra. O Porto foi uma das cidades que mais ressentiu esse desvio de investimento e comércio, um fenómeno de que me dei conta em meados dos anos 90, quando aí leccionava na universidade. Os investimentos dos governos Sócrates nas novas auto-estradas, itinerários principais e complementares, através de parceriasd público-privadas, foram justificados por discriminação positiva do interior, mas, na verdade, devem-se Ã  opção de financiamento das empresas de obras públicas associadas a consórcios bancários - se esse dinheiro fosse gasto num programa de desenvolvimento agro-industrial os resultados seriam outros.

Sem comentários:

Enviar um comentário